O solo "Vozes do outono" foi aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura pelo Edital 265-10 de Pesquisa em Dança da Casa Hoffmann Centro de Estudo de Movimentos em 2011 pela Fundação Cultural de Curitiba. A estreia aconteceu no dia 27 de setembro de 2011 no evento DANCON Liga Cultural de Dança em Belo Horizonte.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Processo 011

22 de junho de 2011, ontem e hoje tive orientação com a Olga e o Ailton respectivamente, mostrei a movimentação BICHO que tinha pesquisado um pouco – os dois gostaram.

Para a Olga mostrei também algo de gestos com mãos que recordei da pesquisa do espetáculo Lugares de Mim da desCompanhia de dança, no qual não foi utilizado.  Ela comentou que é visível a diferença entre as duas movimentações. A segunda movimentação, com os gestos das mãos, era bastante mental e perde a expressividade minha. Ela disse que é bom o lugar desconhecido, e que muitas vezes, nesse lugar, o sagrado pode ser vislumbrado. Falou que a movimentação do chão que fiz tinha algo interessante, algo além da técnica e que sugeriria eu investir nesse desconhecido. Bom, o nome bicho eu dei agora enquanto escrevo, mas quando apresentei essa movimentação para os orientadores ela ainda não tinha nome. Somente, quando os dois perguntaram o que impulsionava o movimento falei que uma das imagens marcantes era de um bicho. Mas tenho outras inspiração enquanto me movimento: transformação, pulsação, latência e iminência de explosão.

O Airton perguntou:  Qual a relação do Bicho com a minha temática? Sabia intuitivamente que me interessa, mas não tinha organizado em pensamentos. Entendi que queria falar sobre o instinto e o animal que todo ser humano possui: um bicho rastejante que existe no chão, num ambiente terreno e mundano. No meu solo, quero trazer questionamentos sobre a paz de espírito tocando no sagrado e no profano. Nesse aspecto, a paz de espírito para mim é uma  busca e escolha. O Bicho me interessa dentro dessa temática trazendo imagens que reflita O QUE FAZER COM O ANIMAL QUE TEMOS. Apesar disso tudo, não quero fechar nada sobre esse assunto, tenho inquietações e sei que outras questões vão se relacionando e construindo, desconstruindo e/ou transformando o bicho num ser humano.

Uma pergunta da Olga: - Que ambiente é esse do solo para mim? Qual a temperatura, iluminação, som e etc? Estou a pensar, apesar do momento ver algo mais próximo do denso e escuro. Penso também numa luz calorosa que não é ofuscante, uma iluminação afirmadora dessa vida mundana pactuada e coexistente com o escuro, mas que é maravilhosa. Dentro das minhas imagens recentes, seria algo parecida com as obras do Bandeira de Mello que vi na exposição Espaço Cultural da Caixa na semana passada. Pensando nisso tudo, chama a minha atenção as imagens contraditórias entre a dor e o riso; e em outro momento, imagens que emanem a alegria.

A Olga comentou algo como:  A técnica por si pode se aproximar ao atletismo, e isso é diferente de arte. Ela questionou em que momento existe a invenção ou a reinvenção da técnica? Penso eu: Talvez o artista criador verdadeiro evoca realmente o mistério, o sagrado, o que está além da técnica codificada. Assim, precisamos ousar e ir além do lugar seguro e desbravar, sinto que é nesse lugar que pode existir a expressão.  Mas não sei o que é e como evocar isso ainda. 

Uma palavra nova que aprendi por meio do Ailton: Inventário. Preciso evocar inventários. Partituras que precisam ser desenvolvidas, pelo menos um pouco, para que depois eu possa fazer escolhas. Acho que focarei no próximo laboratório no inventário da “Insatisfação” também. Uma imagem que veio dos movimentos socados junto com a insatisfação do mundo em volta, pela falta de ser compreendido, um momento que tenho vivido (na verdade busco ser politicamente correto e não exponho esse sentimento ao público, mas no fundo da alma, no laboratório corporal, sinto um lodo interno em mim). Interessa-me essa insatisfação no trabalho, pois ela fala sobre a relação do interno com o externo, eu em relação ao mundo, que é exatamente a clareza do meu papel nesse mundo nesse momento. Sei que nada é casual, assim, escrevendo esse relatório lembrei do meu texto que diz: “às vezes sinto que soluções que estão externas da gente são frágeis demais. Mas também percebo que aquilo que está fora da gente é prazeroso de descobertas e aprendizados. Talvez o segredo não seja o que está fora da gente, e sim, a relação que temos do interno para o externo. Porque as coisas externas morrem, eu morro. E o que pode ser renascido, reconfigurado são as relações.”

Não sublinhar as coisas demais, pois o público não é ingênuo. Tenho pensado a respeito disso em relação ao figurino imaginado. Receio que ele sublinhe demais. Acho que as simbologias que tenho pesquisado precisam ser reconfiguradas cenicamente e/ou servir de meio para evocar o sagrado enquanto eu danço – eles vão estar presente de qualquer forma comigo. Preciso pensar com calma a respeito disso. Creio que a prática vai me dando respostas. No momento decidi não fazer o figurino, preciso desenvolver mais inventários.

Nenhum comentário:

Postar um comentário